quinta-feira, abril 12

Enfim, um lar!


Há àqueles que ainda duvidam, acreditem eu também muito já duvidei...
Sempre dizia que minha vida e minha base segura cabiam dentro de uma mochila 60L Quechua.
Apenas precisava de um bom e velho par de tênis Timberland e uma mochila com tudo que é mais valioso - minha felicidade. Porque tudo se torna fotografia e lembranças suaves que me fazem caminhar; e sempre caminhar...
Desde novinha sentia na pele a responsabilidade da palavra "mudança", mudei-me 3 vezes com meus pais e irmas mais velhas...masss
Fevereivo de 2007, eu arrumava duas malas: uma pra Machu Picchu outra pra vida nova. Sim, eu encaro mudanças da mesma forma como abro meu passaporte: adoro virar as páginas.
Já no 3º periodo de faculdade consigo a vaga de estagiária, minha primeira e única vaga. Só podia estufar o peito e me orgulhar de mim mesma: adeus casa dos pais! Foi ai que aquela adrenalina de subir as montanhas rochosas do Peru voltou com um frio na barriga de subir no elevador de um pseudo-novo-lar.
Dai que me deparei ao meio de uma cidade "grande" e com 6 mulheres totalmente diferentes e unificadas por um mesmo espaço. Dividíamos matemática financeira em momentos de garfadas numa cozinha de chao vermelho. Haviam dias de literatura e sardinhas... Definitivamente mau sabia cozinhar macarrão estantâneo.
Era a mais pão dura da casa, todo dinheiro do estágio era guardado para possiveis viagens futuras, sim muito bem investido! Cinema? Apesar de morar na mesma calçada, meu orçamento permitia 1 bilhete por mês. Pipoca? Não, isso meu orçamento não permitia.
A economia foi quase que vício, o essencial e necessário, tornaram-se bases curtas e calculáveis custe o que custar.
Dai que veio oportunidade de trocar de "pseudo-lar" e fui para uma casa. E de novo arrumando duas malas: uma pra Bolívia e a outra para um novo quarto na casa das 7 mulheres. Pude escolher o novo quartinho, assim como definição, pois eu quem conseguira a locação. (amizade do Sr Ailton - rapaz de 60 anos, muito mallhado e que pintava o cabelo) . Fiquei no 2º andar, assim teria uma janela em que poderia colocar meus cactos. Mas a companheira de quarto não gostava de plantas, muito menos da minha humilde decoração. Mas eu gostava dela, ainda gosto.
E foi assim por um curto periodo em que não me lembro muito bem, mas sempre em 7.
Dai que, por ocasiões descabíveis, um outro belo dia chega e eu venho a decidir: vou me mudar!
Juntando oportunidade de trabalho mais um "pseudo-casamento", fui.
Dai que me deparei novamente arrumando duas malas: uma pra Itália, outra pra "pseudo-casa-nova". A vontade desesperada de cruzar o oceano e ver minha irma que vive em Roma era tamanha que por um tempo a segunda mala ficara intacta, sem tirar nem por nada nela...
De uma viagem a outra deparei com a má inquietude do meu ser. Ou será que esqueci que toda minha felicidade cabia dentro de uma mochila de 60L Quechua? Não! Uma voz dizia: você não pode parar, onde está aquela adrenalina de subir montanhas, donde estão os tênis velhotes de sempre?
E por ocasiões subsequentes, deparei-me novamente em um "pseudo-novo-velho-lar", mas dessa vez com 4 mulheres. Dai que arrumara três malas: uma pra Cuba, uma pra Portugal e outra para um lar bem mais aromatico e generoso. Sim, desbravei a cozinha da mesma forma como foi se perder na cidade de Leiria - Portugal e enjoar com o cheiro de fumo em Cuba.
E quando tudo parecia normal, ao natural... vem logo aquela aflição de coisa parada - eu explico: dependo de movimentos- e isso era bem visivel quando quinzenalmente fazia meu quarto girar, mas dessa vez dormindo sozinha, pude ganhar mobilidade. Ora um quadro na parede, ora uma fotografia no album... a cama? Essa ai rodou. Fui motivo de piada pelas 4 mulheres e por todos aqueles que nos visitavam.
Então, para que os movimentos pudessem sair porta a fora do quarto resolvi encarar a cozinha, daquele pequeno espaço pude me relacionar bem com o arroz e dai as receitas surgiam.
Mas meus movimentos se limitaram, mesmo encarando as viagens paralelas dai que desbravando 21 paises em sua totalidade, eu ainda precisava de mais mobilidade!
E como nossos movimentos são notórios, resolvi entao a procurar terapia. Loucura? Talvez buscar em mim mesma a solução para uma energia acumulada, uma bomba pronta e letal.
Até que as visitas à psicologa foram das mais engraçadas as mais interativas possíveis. Logo no primeiro dia eu quis expor tudo aquilo que pensava e tudo aquilo que me fazia como gente. Recebi logo um: calma! Vc voltará por aqui, fique tranquila, não quero saber tudo hoje. A vergonha me fez engolir seco. E a falta de paciência foi se transformando em grande admiração e amizade por aquela profissional que só sabia rir dos meus causos. E o dia chegou! Ela sabia que estava perto de acontecer "a mudança", mas não sabia até então, como me dizer:"você é assim e assim morrerá um dia".
Duas malas, pra variar: uma pra África do Sul, outra para um LAR! Como assim? Um lar?? fui pra África afoita pra conhecer o país e as pessoas da escola ao qual iria frequentar; mas voltei de lá e ai que veio a casaulidade formal de se receber a noticia com uma pergunta: quer se mudar?
E hoje estou aqui, escrevendo numa suposta sala com uma luz amarelada que me traz uma certa paz. Também hoje, acabo de montar a mesa de jantar com 6 cadeiras. Porque mesmo sozinha e em uma cidade completamente diferente ao qual vivia, eu ainda penso nos "pseudos-velhos-lares" e que hoje, sentada na minha mesa recém montada revejo fotografias, dessas entre outras mil sobre todos ou quase todos meus movimentos. Dessa tal felicidade que falei.
Mas há aqueles que ainda duvidam, eu sei. E ficarei aqui, nesse que posso chamar de Lar; mas já pensando em arrumar as malas - porque o barato do passaporte é poder virar as páginas.
Até amigos , próximo post contando sobre a nova cidade que cá estou e até quando não sei!