domingo, outubro 31

Expedição Cuba - PaRtE 4


Havana Vieja-um filme dos anos 50!


vista da sacada
... Voltando à viagem
Acordei. Incrível, mas já apresentava sinais de preocupação de um dia todo pela frente: como chegar até o restaurante do hotel? O que fazer sozinha pela cidade? E a roupa que prometi ao cubano? Meu coração acelerou... Credo! Será que absorvi aquela ridícula ansiedade do vôo com conexão a Miami?? (vide post abaixo). Eu...realmente estava afoita. Queria uma atenção especial, queria dizer à alguém que estava  num lugar mais intrigante e contrastante que já pude estar. E isso ainda porque não havia nem levantado da cama e, em poucas horas, Cuba só vi pela penumbra... mas eu já sabia. Esse lugar fala! Havana susurrava em meus ouvidos...
Coloquei uma roupa leve e simples. Sabia que faria uma maratona pela cidade! Quanto menor é a cidade mais vc caminha, pode ter certeza.  
Entro no elevador com o coração ainda acelerado, eram quatro  todos espelhados. "Algum desses leva a um esconderijo, sério" - pensei. Sozinha cheguei ao restaurante - buenos dias! Sentei-me timida e solitária, talvez se eu falasse daria eco. Escolhi uma mesa com  duas cadeiras, olhei para a que  ficou vaga e pensei: - vc será minha companheira de todas as manhãs! Vista pra piscina e para  palmeiras altas. Comi rápido... Da próxima vez trago minha mochila pra guardar os brioches... 
Havana- 
Camilo Cienfuegos
Juro, se eu pudesse descrevê-la diria que a cada dia e até meu último dia, ela foi  "bonitinha mas ordinária" - mas só pra mim! Logo de cara conheço dois holandeses (isso é uma constante em minhas viagens. Esses seres, além de super legais são,em sua essência, especiais). A cidade está dividida em três partes: Havana Vieja, Centro e Vedado ou cidade Moderna, onde fica o bairro residencialde Miramar. Começamos pelo novo, com casas lindas floridas, das embaixadas e consulados. As ruas são calmas e limpas dando a sensação de que ao final da rua, chegaria numa praia. Mas eu queria o centro, queria a movimentação. Logo de cara se vê o Capitólio (uma construção majestosa com 92 m de altura,  foi inspirada no Capitólio de Washington, nos EUA. Hoje, o local construído de parlamento  passou a Museu de Ciências Naturais. - Academy of Sciences).O Gran Teatro de la Havana também é uma das atrações importantes, afinal é a sede do Balé Nacional de Cuba. Edifício Teatro García Lorca e um pouco mais o tão esperado Museu da Revolução (ao atravessar a rua dei de cara com o Iate Granma - o que levou os revolucionários à costa cubana). Há dois prédios antigos aos quais eram sede de trabalho serio - um do Ernesto Che Guevara outro de Camilo Cienfuegos... Sentia Che por aquelas ruas...As praças me chamavam, impressionante! Algumas repletas de livros, outras de pinturas em tela, fotografias clássicas de Raúl Corrales, outras ainda, com preciosidades andando de lá pra cá. Ora fumando, ora cantando, ora sorrindo! Plaza de la Catedral próxima aos melhores bares e restaurantes -  uma bela catedral barroca compõe todo o ambiente. Impossível não sentar em alguma daquelas cadeiras ao ar livre! 
Catedral de Cuba
Havana vieja é o puro contraste cubano. Nas ruas, música e gente a todo momento. Dobrando a esquina, muda-se o ritmo, como se alguém controlasse as trocas de cd´s. De prédios velhos, aos cortiços. De cores das fachadas, até roupas estendidas no varal. De casas floridas, até gente sentada vendo a vida passar. De charuto ou flor. De água ou rum. De bar em bar. De ritmo a outro. De sorriso a miséria. Intriga!
A maioria do povo cubano tem formação universitária e fala inglês. É muito fácil identificar seus prazeres, andam com eles: se não tem charuto, tem-se livros. Se não tem música, tem-se bom papo. Se não tem "Havana Club" vai de "Mulata" ou qualquer outra marca de rum. O importante é ter rum.
Havana vieja parece um filme de 1950! Os carros "rabo de peixe" ficam estacionados em frente as casas. Os cubanos, sentados com pernas pra fora e descalços pra se aliviarem do calor. As crianças chegam correndo com uniforme vermelho e meia branca ou bege e ou cinza - depende do grau que está.
Porque além de educação, eles têm moradia. Não se vê criança nas ruas pedindo esmola- primeiro lugar da América Latina que fui que não deparei com este desprazer.  Mas o povo pede. Pelo olhar, pede. Não querem seu dinheiro, remédio ou seu all star usado. Pedem atenção. Pedem libertação - a liberdade de serem ouvidos. Pedem! 
Vi contrastes: os jovens são, em grande massa, rebeldes e capitalistas ao extremo. Os idosos são, em grande parte, calmos e conscientes do que foi aquela ilha 52 anos atras. 
Andando despretenciosamente por aquelas ruas, depois de tomar um Mojito na Bodeguita del Medio ao som de bolero com um grupo de cubanos (comprei o cd, 10 cucs) fui, com meus amigos holandeses até a Floridita, outro bar famoso pela seu grande frequentador da época - Hemingway! "Mojito es de Bodeguita, daiquiri es de Floridita"... O calor fritava meus pés junto ao suor. Fiquei pálida, tonta. Um cubano poliglota se aproximou, eu acho que ele falou em três idiomas. Boa pinta, baixo, barba feita, com roupa de marca e uma blusa com a bandeira estadudinense. Veio com pressa, como se quisesse nos tirar das ruas. 


De súbito inconsciente, virei-me pra esquerda e meus olhos estacionaram direto à fachada de um bar escuro, sem música e com portas largas. Não, eu não estava delirando. Tinha um cubano encostado na porta principal do bar fumando um charuto, parecia "pai de santo", vestia roupas brancas e aquela fumaça circulava em sua cabeça. Não, não era um cubano qualquer, apesar que "um cubano é cubano" porque são todos iguais. Era cantor, e não era um cantor de bares clandestinos sem equipamento de som. Era "O"cantor . Buena Vista Social Club (BVSC). Parei, enquanto meus amigos eram puxados por aquele jovem cubano, eu fiquei ali, em estado de graça. Olhei tanto que ele percebeu, rimos! Ele soltou um sorriso gostoso e fez sinal com a mão. Eu sussurrei: Es usted, el cantante? Ele riu e veio em minha direção. Segurou na minha mão e me levou naquele bar escuro e quente. "Quieres una musica, chica?" Dei conta de que meus amigos me seguiram e o outro cubano também, sentamos todos de frente ao palco imporvisado e a garçonete veio - Mojitos para todos, exceto ao jovem cubano que pediu Cuba Libre. Cantei junto, dancei na cadeira, aquilo me arrepiava... Por fim ele senta com a gente, tira um cd da bolsa e me oferece por 15 cucs, quando disse que era brasileira, me vendeu por 10cucs. De brinde ganhei seu autógrafo e ganhei o dia também. Quem diria um bar fétido e sombrio, brilhava ao som de cinco cubanos, eternos cubanos.
O dia foi cheio. Deixamos os museus e as fábricas de charuto e de rum para o dia seguinte...
Exausta, mas sem ansiedade. "Minha roupa fedia a fumo... a fumo cubano"
Até amigos, com mais expedição Cuba - Havana e sua história.
não dava pra fechar a sacada, impossível

quinta-feira, outubro 14

Somos aquilo que comemos

ir à Itália e não comer pizza é a mesma coisa que ir na Fontana di Trevi e não jogar uma moeda - dá azar

(Uma pausa em Expedição Cuba - já já) 
Venho me alimentando...
"Somos aquilo que comemos".
Alguém disse essa frase enquanto eu almoçava. Mexeu! Entre uma garfada e outra olho para o lado e vejo minha amiga do trabalho sentada lendo a revista "Women's Health".
Pergunto a ela: -Você não almoça hoje? Já sei já sei, a correria, né. Também estou, vim aqui só pra engolir alguma coisa.... 
-Tati, eu já almocei, meu horário de almoço é sagrado e eu gosto de apreciar aquilo que como. Tenho muita coisa pra fazer, mas prefiro priorizar minha digestão lendo essa revista com matérias sensacionais de corpo e beleza...
(Meus olhos cairam em direção às suas coxas. Usava uma saia que contornava sua silhueta e deixava bem a mostra aquilo que ela mais apreciava, sua elouquecedora coxa. Lidi é uma amiga e tanto. O que tem de fútil tem de bonita. Admiro seu comportamento leve e feliz, esbanjando saúde. Admiro o tom colorido que ela escolhe a dedo pra cada modelito de trabalho. Sua sinceridade já me fez parar e escutá-la muitas vezes, sem contar nas idas ao banheiro só pra rir de alguma coisa nossa, só nossa. Eu adoro quando ela me chama de maluca. Ela me disse que nunca teve uma amiga tão esquisita como eu e que me adorava por causa disso.
Aos 31 anos, com dois filhos pequenos, um emprego e um brechó nas horas vagas, Lidi é todo um resumo que eu ousei em fazer pra minha vida...)
...Já havia retirado meu prato da mesa, quando de súbito tentei lembrar o que continha nele... Eu não sabia, era alguma coisa com arroz mais um molho não sei com que. 
Voltei ao trabalho com essa frase encruada na minha cabeça. Não pensava em outra coisa a não ser naquele desgraçado prato. Foi ai que me dei conta: em toda aquela semana eu comi arroz com alguma coisa. Fiquei assustada, de verdade. Voltei pra casa muito pensativa, mais que o de costume - quando entrei no elevador olhei pra mim mesma e pensei: - Putz, eu também não sei que cor é a minha calcinha.
Mas uma coisa era certa, sabia de toda estratégia do mês na ponta da língua, se alguma coisa fugisse do esperado já tinha até um plano B. Mas não sabia que "porra de sei lá o que" estava com aquele bendito arroz.
Foi ai que recebi uma mensagem: "somos aquilo que comemos". Pensei:- Caramba eu ouvi essa frase em algum lugar... Meu Deus, não sei o que vem acompanhando meu arroz, não sei que cor é a minha calcinha e agora, quem disse essa frase mesmo?? Resolvi mudar, não que eu estava surtando, ou porque as dores de estômago só me faziam lembrar de trabalho, muito menos porque já nem dormia direito... Resolvi foi experimentar um outro tipo de vida dentro da mesma rotina de sempre. - Se com a Lidi dá certo, por quê comigo não dará?? Resolvi ir às compras. Indiferente de roupas ou remédio pra memória, fui ao supermercado, e aquela frase começava a fazer sentido pra mim. Passando com o carrinho  de gôndola em gôndola, lembrei do texto de Rubem Alves "A festa de Babette": "Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado." (essa vai pra você, Léo hahah).
Parei nas frutas e verduras. Peguei quase todas, uma de cada pra começar e pra evitar desperdícios. Optei pelo leite de soja, grãos de soja e soja vegetal texturizada (SVT). Segui em direção aos frios - requeijão light, iogurte. Lembrei o que não falta no café da manhã dos meus pais: ração humana está na moda!!!! Mel, pra compor tudo isso e mais um arroz integral. (Eu não quero emagrecer, mas é que eu já tinha em casa tudo aquilo "nada saudável") 
Resolvi ler. Não àquela revista da Lidi, mas resolvi pesquisar e vi que até o bom humor está ligado no alimento que ingerimos. A fibra por exemplo, é um causador da sua felicidade. Na ração humana, há guaraná em pó - tomarei pela manhã e nem precisarei de café!!!... A soja faz muito bem a mulher. ..As verduras e legumes... Aprendi que, exercício físico bem feito é aquele que acompanha uma boa série de refeições!!! Dá certo!!
Agora, quero abusar das combinações, experimentar - reinventar. Gosto da personalidade do quiabo, nas possibilidades da abóbora, na simbiose casual entre o camarão e o chuchu. Da conformidade do feijão com o arroz...o melhor do simples!
Uma vez eu li que, para se fazer um bom prato depende também do seu estado de espírito - se seu prato é colorido, sinal de que está feliz: "abuse do colorido, ele te deixará mais feliz ainda - coisas leves". "Se você está triste, seu prato será escuro - mais gorduroso. Muitas das vezes bate até arrependimentos."
Meus almoços mudaram. Não é mais aquela correria. Eu realmente dedico um tempo para meu arroz integral com carne integral refogada com berinjela, abobrinha, pimentão, acompanhados com uma bela salada verde. E para sobremesa, uma laranja bem docinha ao seu natural. Meu Deus, sei exatamente o que comi no almoço. E isso se tornou um prazer. Comprei até cores distintas de calcinha, hoje usei com cor de cenoura. Uau!! Exatamente! "Somos aquilo que comemos" - agora essa frase faz sentido pra mim.
Não fujo daquela pipoca doce, minha única companheira de cinema. Não nego um sorvete, ainda mais se for de flocos com calda de chocolate quente. Igual minha cervejinha de fim de semana: tudo com moderação!
Acho que fui pato em outra vida. Minha facilidade de comer absolutamente de tudo me ajudou em muitas situações. E nunca neguei nada! Todos os lugares aos quais viajei, sempre pesquisei: "o que comer." junto com "o que fazer". Fascina e muito experimentar sabores. Trouxe isso a minha rotina - acho que me sinto mais feliz com isso. 
Assim como Elizabeth Gilbert que engordou 11 quilos na Itália por 4 meses(história contada em seu livro - Comer, rezar e amar), eu engordei 6 quilos, ficando apenas 1 mês!!!! Minha irmã dizia: isso come ,porque italiano gosta de prato limpo! E eu não poderia fazer diferente: como não apreciar uma lagosta limpando meus dedos no pano  pendurado no pescoço com desenho de uma lagostinha?  Como não experimentar todos aqueles maravilhosos sorvetes italianos?? Meu Deus, como ir à Nápolis e não comer a melhor pizza do planeta??  Ilha di Capri já é um manjar dos Deuses, imagina comendo por lá???
Quero o prazer na minha vida, na minha rotina. E que seja constante.  Assim como nas viagens.
Reinvento - hoje é soja, amanhã é peixe, final de semana, um pedacinho de Picanha - pooode!
Eu ainda quero viajar e nos lugares mais inóspitos colocar na boca aquilo que for deleite àquele lugar. Porque eu quero a alegria  das pessoas descendo minha garganta abaixo...
...Em mais um almoço e a Lidi fala: Você está diferentem parece que está "viajando"! (Ela não sabe, mas transformou a minha rotina ao ler aquela frase)...
"Tudo o que ingerimos (ou deixamos de ingerir) irá refletir na nossa saúde de alguma maneira. Do ponto de vista holístico, este raciocínio se encaixa também nos demais campos da vida. Tudo o que absorvemos passa a fazer parte de nós, e por nós será devolvido ao mundo. O ato de se alimentar é uma forma de conexão com o todo, com o Universo."

domingo, outubro 10

Expedição Cuba - PaRtE 3

Vista de Havana da sacada do meu quarto
Ainda no avião...
Foi muito estranho. Ao ponto de não saber ao certo aonde estava e nem aonde iria. 
Até o Panamá são sete horas de vôo e pela primeira vez, em todas as viagens, meu assento não seria na janela. Ajeitei-me timidamente no corredor. Cheguei até pensar que não teria problemas com a nova posição sem vista pro lado de fora, pois já  conhecia o trajeto. Então: não terá nada de diferente até o Panamá city - as nuvens se movem, mas são sempre iguais. Tolice!!  Sou daquela que vê formas e vida às nuvens, como se eu estivesse ali e elas, a me seguirem. Senti falta delas.
Dessa vez sem livro - sem Clarice, sem Sofia, sem Saramago. Sabia que me identificaria com a literatura cubana, e de fato! Levei apenas um guia só pra dizer que, possivelmente não me perderia e só pra garantir que já soubera de algo. Queria muito ler, admirar Cuba ali mesmo, sentada no corredor. Mas não conseguia enxergar uma palavra se quer. Enquanto pensava nas músicas, no povo, nas histórias tinham duas pessoas ao meu lado pensando em Miami, Florida e o caralho a quatro. Sim, eu lia seus pensamentos - afinal era um vôo com conexão e que algumas frases já se podiam escutar: "Será que conseguirei os notebooks? Comprarei muito dessa vez..." Definitivamente não daria pra ler meu guia de Cuba com aquele clima de ansiedade.
Cheguei ao Panamá e me deu uma vontade louca de ligar para o senhor Portugal - um taxista que me ajudou muito quando estive por lá em uma outra expedição click aqui (sempre achei muito engraçado seu nome- porque de português ele não tinha nem o bigode. Mas não liguei, esqueci completamente de levar seu telefone, aquilo me deu tristeza. Triste também foi perder o movimento das nuvens e, perder a paciência pela falta de concentração ao ler um guia. (ao meu ver um vôo que faz conexão pra Havana jamais deveria fazer para Miami ,enfim).
...Minha ficha caiu, estava mesmo a caminho de Cuba ( hoje sei porque sou chamada de telerj - e só hoje hahahahah). Agora sim, olho para passagem e já vejo logo: Panamá city / Havana. Aquilo me deu uma sensação tão boa, quase que um orgasmo derradeiro. Dividi o vôo com estudantes de todas as partes da América, principalmente do Brasil. Pude entender que faziam medicina na ilha de Fidel e que as aulas começariam na segunda - o vôo foi num domingo.
Não tive tempo de tirar o "cinturon de seguridad", cheguei!!! As malas são observadas pelos policias e pelos mais lindos cachorros. Eles cheiram nossas bagagens com tanta força que dava até pra escutar um ruído de um cachorro feliz por receber biscoitos ao final do expediente. Achei graça porque teve uma bagagem que, sinceramente pensei que fosse dar merda. O cão cheirou, subiu, deitou, arrastou, parou e olhou profundamente. Mas saiu abanando o rabo feliz da vida por ter outras centenas a cheirar.
Logo uma policial me perguntou pra onde iria, endereço e por quanto tempo. Pasmem! Eu se quer me dei o trabalho de olhar o endereço antes de viajar. Disse isso a ela - mostrei meus vouchers e só sabia que o nome do hotel era não sei que lá  Libre. Acho que ela não quis perder tempo comigo e me deixou ir. E eu fui. Chamo isso de passarela da felicidade: aquele corredor que divide o seu passado do futuro - aquele que divide "o você" de antes para "o você" de depois. Aquele corredor que, ao final se vêem pessoas  e que me fazem pensar: essas pessoas não sabem, mas mudarão a minha vida, pra todo o sempre...
Um senhor muito do simpático estava a minha espera, seu sorriso de boas vindas me deixou mais feliz e pude esquecer da frustração por não viajar nas formas das nuvens. haahahhah
-Hola, Tatiana, espere un ratito, voy a buscar el auto. Será que entrarei num daqueles carros velhos originais de Cuba??? Fiquei ali a sua espera com aquela ansiedade que socava meu peito. 
-Señorita, es este, vamos??? A que pena, era um peugeout 207. Que pena?? Que descoberta! Pode-se ver carros novos sim.
Pedi para ir na frente, queria começar ali mesmo às 22:00 hs um tour pela cidade... Fomos conversando, a primeira pergunta que ele fez: - Y cómo esta el Lula, presidente de Brasil??? Não entendi se ele queria saber da política ou da saúde do presidente. Porque quando perguntei sobre Fidel, ele me disse com um sentimento de alívio talvez: Fidel está bien, está vivo todavía. Então eu disse: Lula está bien, creo que sigue así.
Nossa conversa estava fluindo perfeitamente bem, quando resolvi perguntar uma coisa que jamais se deve perguntar a um cubano - ?Dondé vive el Fidel? A única resposta que tive em toda minha expedição à Cuba: Vive en el oeste del país...
Llegamos!!! Chegamos?? Sério?? Não, tem alguma coisa de errado. "Pqp, por que não anotei em algum lugar mais fácil o endereço do hotel??" Sim, inacreditavelmente era aquele mesmo. Um cubano alto largo abriu a porta do táxi e me deu sua mão.Alguém pegou a minha mala e eu nem  vi .Por uns cinco segundos parei. Olhei pro alto, para os lados, voltei a mim. - Meu Deus, eu não queria isso, juro que não queria.
Fiz o cheking e ali mesmo troquei a moeda. Ouvi atentamente as orientações da recepcionista, mas óbvio que não lembraria de nada - (um mapa pra andar no hotel ).Fiquei no Havana Libre, veja aqui vinte e cinco andares que me fizeram voltar 25 anos de minha vida (ainda na barriga de minha mãe eu já vibrava com Cuba - até perguntei se ela colocava música cubana na barriga pra eu relaxar)... Um simpático camareiro apareceu com minha mala e fomos juntos ao quarto. Que maravilha porque eu não saberia chegar até lá. Pegamos o elevador dourado cheio de números de 1 até 25. E espelho aos quatro cantos. Tive medo daquele elevador, só não subia de escadas porque meu quarto ficava no décimo andar. 
pronto, chegamos. Uau! Perguntei ao camareiro se era ali mesmo que eu ficaria. Ele perguntou se aquele quarto era ruim se eu estava acostumada com coisa melhor, no Brasil. Sinceramente? Nunca em toda minha vida tinha me hospedado em um lugar que ao qual o quarto era maior que meu apartamento. Conversamos tanto ali, nós dois. Mas eu precisava descansar, queria muito abrir aquela sacada e sentir a brisa da noite. Mas ele não entendia, calou-se e parecia que estava a espera de alguma coisa... Meu Deus o que esse cara quer? Uma voz falou comigo: - Porra, Tatiana, ele quer "proprina", gorjeta, "tip"! Aaa aqui está! Muchas gracias señorita, tiene mas otras cosas? Ropas viejas o sucias? Lápices para mis niños? Difícil isso, porque como viajar já com roupas sujas?? E, como viajar com uma caixa de lápis?? Pensei em alguma coisa, mas naquele instante não sabia nem aonde estava a chave do cadeado da mala. Pedi gentilmente que ele voltasse dia seguinte, hasta luego.
Fechei a porta e os olhos: estou em Cuba! Corri em direção a sacada, fiz muita força pra abrir a vidraça daquela sacada velha. Pense que não fosse conseguir. Pedi forças do além, mas consegui. E Havana estava lá, bem diante de meus olhos e eu só pensava: Aonde fica o oeste desse país??? Luzes muito fracas, ruas na penumbra da noite, Cuba quer gritar. Olhe para mim, grite agora! Fechei meus olhos e agradeci: - Obrigada, Deus, perdi as nuvens mas ganhei essa brisa cubana... vou tomar banho. Toalhas brancas gastadas e pesadas, espelhos antigos e mofados aos cantos. Eu me via de todos os ângulos, olhava pra mim mesma em todas as posições ao mesmo tempo...Resolvi deitar na banheira, mas suas bordas descascavam e aquela tinta dura soltava a medida que caia água quente. Mesmo assim deitei, relaxei ao ponto de puxar uma soneca, minha pressão baixou e eu sonhei - que estava numa banheira em Cuba...
Deitei no cantinho daquela cama tão grande, eu não precisava daquilo, quem escolheu aquele hotel pra mim??? Buenas noches....opa, esqueci a sacada aberta que ventania...  e a voz responde: - Esqueceu não, Tatiana é que você não consegue fechá-la. 
*Nota-se que os hotéis antigos têm as mesmas características, são de 4 a 5 estrelas, porém esse glamour ficou no passado. Saem por preços de hospedagens convencionais.Até porque ainda faltam manutenção e instalações...
..Detalhes de quem quer entrar num pais e só sair quando esse pais entrar em mim....

Hasta luego amigos, até o dia seguinte com Havana e seus encantos contrastantes...

sábado, outubro 2

Expedição Cuba - PaRtE 2


Faltou a letra "I" e "L" nessa placa - foto em Trinidad de Cuba
Viajando pra ilha:
Sua dimensão chega a 1200km de uma ponta a outra (maior que Portugal e já já falarei desse país em uma outra expedição ) ...
-Companhia aérea: Copaairlines - escala Panamá city;
-É necessario "tarjeta" de turista;
-Opções de hospedagem: hotéis 4 a 5 estrelas (alguns "all inclusive") e casa de cubano credenciado pelo governo (uma forma mais econômica e real de se visitar a ilha);
-Meios de transporte: táxi (o mais convencional), cocotáxi, camelo (uma espécie de ônibus) e os próprios autobuses
-Jornal local: Granma click aqui(trouxe um comigo - o jornal também publica em suas edições, capítulos do livro de Fidel - "La victoria estratégica" (comprei-o por 10 CUCs); o jornal também traz informações sobre o esporte, cultura ,sobre a educação...
-Câmbio para turista: 1 euro = 1,12 CUCs  ou 1 dólar = 0,88 CUCs
-Câmbio em moeda nacional: 1 dólar = 25pesos cubanos
*Caso seu maior interesse é sentir de perto este belo pais, sua história, sua cultura e seu povo, a melhor opção é ficar em casa de cubano - no próprio aeroporto já se consegue informações sobre essas casas. São seguras, familiares e você experimentará a comida tipica crioula: 
Moros y Cristianos – arroz e feijão preto cozidos na mesma panela com carne de porco.
Congrís – arroz e feijão vermelho cozidos na mesma panela.
Picadillo a la habanera – carne bovina ou de porco temperada com tomates, pimentão, azeitonas e uvas-passas. Pode ser servido com banana frita e arroz e ainda ovos.
Ajiaco – é o prato nacional. Guisado de vegetais feito de raiz de mandioca, nabos, cenoura, ervas, alho, cebola, pimentão verde. Pode ser feito com carnes de cedro.
Chicharrones de puerco – torresmos de porco.
Plátanos – bananas fritas cortadas bem finas.
 Não posso esquecer dos drinques originais, refrescantes e todos a base de rum:
Daiquiri – feito com açúcar, suco de limão, gotas de marrasquino, rum branco, gelo picado. É servido em copo de champanhe. Um drink de Hemingway (falarei desse escritor em outro post)
Mojito – drinque feito de rum branco e seco, suco de limão, açúcar, gelo picado, soda e yerbabuena, uma erva parecida com hortelã (para decorar e dar sabor ao ser amassada). O escritor norteamericano Ernest Hemingway tornou a bebida famosa e a maioria dos turistas não deixa a ilha sem saborear este drink no bar preferido do escritor: La Bodeguita del Medio. 
Cuba Libre – rum branco, cubos de gelo, refresco de cola, gotas de limão.
Cerveja – as mais famosas são: Bucanero e Cristal.
 *Caso sua hospedagem seja noHavana Libre - click aqui),(fiquei neste hotel,) há um restaurante de comida crioula chamado "El Barracón" - os pescados também são uma boa pedida.Para os amantes de uma boa música, há guias para casas de shows. Não se apegue somente em roteiros turísticos, vá para as ruas, sinta a vibração. Em cada esquina se escuta um bom bolero, jazz, salsa... todo bar tem música ao vivo. É um povo muito animado, carinhoso e inteligente. As mulatas brasileiras que se cuidem, as cubanas dão show de simpatia, suavidade e melodia...
 ...Cuba não é um pais barato para se viajar. Há aqueles que optam pela Europa clássica tendo em vista a comparação do valor do câmbio com o lugar a ser visitado."O que fazer em Cuba?Vou pra Europa, claro" Uma pena quem pensa assim.
Muitos também procuram à ilha para um bom descanso em mar caribenho. "Una lástima", porque o país lhe oferece muito mais. É uma nação simples, porém cheia de história, luta. É um país sensacional em todos os aspectos. Quando falo que meus sentidos foram todos aguçados, falo de experimentar um sentimento nunca vivido. Essa viagem veio num momento certo. Sentia a vibração antes mesmo de pisar naquele lugar. Já conhecia um pouco das músicas - isso foi sensacional porque quando vi um grupo musical em Havana, já pedi logo que tocasse "Dos gardenias para ti" e "Hasta siempre, click", arrepio foi pouco, muito pouco. Conheci um cantor de "Buena vista social club" e de novo pedi o mesmo repertório. Não pode deixar de comprar um cd por lá (10 cucs em média)
O cheiro de tabaco é delicioso, sempre a uma brisa fresca. A cada esquina é possível um contato com famosos, que para a ilha não passa de um simples cubano - TODOS SÃO IGUAIS, em sua essência, em sua nação!
Por vezes tentava um contato maior! Não é permitido cubanos conversarem com turistas - somente os que são credenciados a trabalharem com os mesmos. Policial já vem logo em cima. Mesmo assim, sempre se arranja um jeito, seja com o camareiro, seja com o cantor, seja com o vendedor... se estiver num bar tomando cerveja eles logo chegam... Pra quem se aventura nos livros, a boa dica é comprar por lá - não pode esquecer do "El viejo y el mar" de Ernest Hemingway (boa dica Léo, obrigada viu?), "Diário de Che", "La victoria estratégica- de Fidel Castro Ruz... livros velhos, novos, nas ruas, nas livrarias... em qualquer lugar! A única forma de se usar a moeda de cubano é comprando livros. Vá a uma casa de câmbio e faça a troca. Exemplo: 10 cucs de turista dá pra comprar uns 20 livros.
Desfrute de outros caminhos, conheça outras cidades... 
Vendo Fidel, pela TV cubana!
Cuba é um lugar lindo! 52 anos, pode-se dizer. Eu vibro com este lugar. 
Espero que desfrutem ao máximo desse cantinho visitado. Contarei com detalhes de quem esteve por lá com coração desarmado, feliz e longe de quaisquer exagero do nosso dia a dia. 

Até a próxima, em Havana