foto do entardecer
... Vale lembrar que, neste lugar, neste longínquo lugar, não tinha televisão, rádio, telefone fixo ou móvel e nem internet! Um gerador funcionava pela noite! Estava desconectada do mundo!Quando percebi que, não falaria com amigos muito menos com alguém da família, me assustei um pouco.
Nem remédios, nem roupa de frio, nem nada de emergência o que levei foram apenas protetor solar e repelente! (...)
(...) No fim de tarde, depois de um belo banho frio e com os pés no chinelo piso naquela areia fina e delicada que invade todo o albergue, ando até chegar a cabana, sinto um pouco de areia entre meus dedos ainda molhados, caminho em direção a ela, a cabana. Até que vejo de novo, Hector, o filho da Dona Maria que brincava sozinho por lá, chamei-o, então percebi que se ficasse mais uma hora sozinha, talvez escorreriam lágrimas em meu rosto ou "escorreriam" palavras duras e tristes em meu caderno. Ele então me fez companhia, até que sua mãe pensava que estaria me incomodando. -Por favor, não o tire daqui, eu estou conversando com ele. Eu precisava dele naquele momento, olhava-o e sentia uma leve angústia: como aquele ser ali sozinho brincava e nem se quer nunca me viu antes, nem sabe de onde vim. Pergunto a ele: -Conhece o Brasil? Ele disse que sim, só de televisão, e ai então eu disse a ele: pois bem, vim de lá! -E vc, sabe aonde fica seu país no mapa? Ele nunca tinha visto um mapa antes, foi ai então que abri meu "Lonely Planet Central America" e com todo carinho e felicidade, mostro seu país, El Salvador... ele então toma o guia de minhas mãos e procura o lugar ao qual ele vivia. Não achamos (era tão remoto que nem no Lonely tinha), procurei então o lugar aonde o pai dele trabalha, uma outra cidade, achei! Eu vi a felicidade verdadeira no rosto de um menino simples e com pés sujos e descalços. Resolvi pegar meu bloquinho de anotações e dei a ele, entreguei tb minha caneta e perguntei: vc sabe desenhar? Ele me disse com muito orgulho, sei sim! E me disse mais: -O que vc gostaria que eu desenhasse? Não soube responder. Ele o desenhou e com aquela mão pura e delicada desenhou-o com flores no caminho. (O desenho de uma criança diz muita coisa). Sua mãe, mais uma vez o chama, ele então resolve ir pq já estava tarde. Me vi novamente sozinha, levantei e fui caminhar, olhei pro mar e vi muita coisa! Vi sim, muita coisa que meu coração sentia. As estrelas brilhavam, piscavam e iluminavam minha noite. Aquela brisa e um vento no rosto sacudia minha alma. Aquele silêncio fatigava minha existência. Chorei! Voltei então a cabana, sentei na cama e escrevi. Escrevi com muita força, com muita vontade. O ventilador girava meio torto, os mosquitos pousavam de 1 em 1 nos meus braços, nas pernas. O barulho do vento me assustava, a escuridão lá fora tb. Por vezes pensava em apagar a luz pra entrar em conformidade com o lugar, pra não chamar atenção de quem passava. Mas quem passaria ali? Ninguém. Mas até esse ninguém me metia medo. Resolvi voltar pro mar, queria ver a chegada das tartarugas, esperei e elas não vieram. Volto pra dormir de verdade vendo aquele ventilador que girava torto, a janela aberta porque não tinha vidro suficiente pra fechá-la. Chorei. Chorei pq lembrei dos meus pais, da minha vida... e tão somente da minha dor!Obrigada Deus! ... Boa noite a todos!
Dia seguinte caminho pelo outro lado do albergue fiquei encantada, encontrei um lago e pude admirar outra coisa sem ser aquele mar gigante. O lago já não me dava a idéia de infinito, como o mar e Hector lá, sempre comigo!
Chegou a hora, a minha hora, a de partir. Pego as minhas coisas e saio, Hector me acompanha até a porta. Fiquei de joelhos pra abraçá-lo e o agradeci pela comanhia. Ele riu. Fui embora! Volto a estrada, volto naquele carro cortado atrás, volto naquele ônibus velho americano e volto! Volto a San Salvador e a minha realidade...
Mais um dia em San Salvador, um dia de pupusas sem gosto, um dia amigos no albergue. Conheci um rapaz de Israel e uma linda menina do Canadá, a gente se esbarrou na cozinha, cozinhávamos todos ali e sem ao menos nos conhecermos... Jantamos juntos (macarrão), logo fomos para um bate papo, rimos muito do garoto, ele era meio aloprado e qtinha uma máquina idêntica a minha.. com zoom tudo e tudo! A linda garota estava de passagem e esperando seu namorado mexicano. (As pessoas procuram mais El Salvador pra surfar)...
... Contei a eles um pouco da minha experiência com o mar... percebi que, só estando lá pra sentir, pra se "autoconhecer", falando assim não dá! rs.....
Por hoje, não me veio ninguém em mente pra postar, poderia falar de algum clássico, ou alguma frase inspiradora... mas resolvi, então a escrever uma só frase:
I wanna rule my destiny!
Hasta amigos e no próximo post, Expedição Guatemala (ojalá)
Nenhum comentário:
Postar um comentário